Grana desviada de Furnas abasteceu ilegalmente campanhas de Aécio Neves, Alckmin e José Serra

 

Documentos encontrados na casa de um diretor da Odebrecht revelam ligação com centenas de políticos. A notícia relacionada à 23.ª fase da Operação Lava Jato é quase um repeteco do que a que veio à tona em 1.º de dezembro de 1993. Nesse dia, o senador José Paulo Bisol (PSB-RS), um dos sub-relatores da CPI do Orçamento, anunciou com estardalhaço que a Polícia Federal havia encontrado 40 quilos de documento na casa de Ailton Reis, diretor da empreiteira, que revelavam um poder paralelo no Brasil comandado por empreiteiras. O senador não detalhou os nomes, mas a lista circulou.

350 nomes

Segundo compilação feita pelo jornal Folha de S. Paulo, eram 350 nomes. Havia suspeita de pagamento de propinas, com alguns nomes listados ao lado de alguns porcentuais. Outros estavam em uma página de “brindes especiais”. Bisol considerou o fato tão grave que até consultou o então presidente, Itamar Franco, e o Exército, para expor o temor de um golpe militar em resposta ao material apreendido. Mas já no dia seguinte à divulgação se considerou que a iniciativa de Bisol tinha sido exagerada.

CPI do orçamento

No fim de janeiro de 1994, a CPI do Orçamento divulgou o relatório final, em que pediu a cassação de 17 parlamentares, de 43 citados. No relatório da subcomissão, Bisol havia recomendado punição para a Odebrecht, mas isso não foi incluído no texto aprovado.                                                       

acmA famosa Pasta Rosa

Em dezembro de 1995, a revista IstoÉ publicou reportagem sobre o “Dossiê Pasta Rosa”, com documentação que mostrava doações ilegais de US$ 2,4 milhões do Banco Econômico a 27 candidatos nas eleições de 1990. Na época, as empresas não podiam colaborar em campanhas, Antonio Carlos Magalhães (ACM) teria sido o principal beneficiado. José Sarney e Renan Calheiros também constavam da lista.

 

 

Reação do PFL (hoje DEM)

A primeira reação do PFL, um os partidos com envolvidos, foi exigir mais cargos no ministério de Fernando Henrique Cardoso para minimizar o desgaste causado com o vazamento da lista. A Polícia Federal pediu autorização para investigações contra quatro senadores e seis parlamentares, mas o então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, recomendou o arquivamento, no que foi atendido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

brindeiroEngavetador da República

Esse foi um dos vários episódios que renderam a Brindeiro a alcunha de “engavetador-geral da República”. O procurador alegou que, apesar de as doações de empresas terem sido ilegais, a legislação eleitoral não as classificava como crime. Junto com a Pasta Rosa do Econômico surgiu outra listagem, de doações ilegais da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) a 49 candidatos, entre eles José Serra. Não houve andamento nas investigações.

Sanguessugas

Em maio de 2006, a Polícia Federal deflagrou a Operação Sanguessuga, com a prisão de 48 pessoas, suspeitos de envolvimento usar dinheiro do Orçamento da União para compra de ambulâncias superfaturadas. Segundo estimativas, a “máfia das ambulâncias” causou prejuízo de R$ 15,5 milhões. A empresa Planam, de Darci Vedoin, pagava propina a parlamentares em troca de emendas destinadas à aquisição dos veículos e outros materiais hospitalares.

O Congresso instalou uma CPI para investigar o assunto, e em julho de 2006 divulgou uma lista com 56 deputados federais e um senador que estavam sob investigação. O presidente da CPI, Antônio Carlos Biscaia (PT-RS), ressaltou que os listados não eram “culpados”, mas que estavam sendo investigados.

Negociação com ministro Gilmar

Os nomes só vieram à público após negociação com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que comandava as investigações contra os parlamentares. Os envolvidos negaram envolvimento com o esquema e reclamaram da divulgação da lista. Mas as investigações resultaram na abertura de 67 processos contra deputados no Conselho de Ética da Câmara. Nenhum deles recebeu punição no Congresso, mas a maioria não conseguiu se reeleger nas eleições de 2006.

Lista de Furnas

No fim de 2005, o lobista Nilson Monteiro apresentou uma lista com nomes de 156 nomes de políticos cujas campanhas teriam sido abastecidas ilegalmente com dinheiro desviado da estatal Furnas Centrais Elétricas, com sede em Minas Gerais. No total, teriam sido R$ 42 milhões destinado ao caixa 2 das campanhas, dentre as quais Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Havia versões diferentes da lista e a suspeita de assinatura falsa de Dimas Toledo, ex-diretor de engenharia de Furnas.

Negaram

Os acusados negaram irregularidades e afirmaram que a lista de Furnas era uma fraude montada pelo PT, como forma de desviar a atenção do escândalo do mensalão. No começo de 2006, o então presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral, na época no PT, desqualificou a lista. Em junho de 2006, porém, um laudo da Polícia Federal indicava que o documento era autêntico.

Aécio pegou propina

A partir de 2015, com delações da Lava Jato que implicavam Aécio no esquema de Furnas, ele voltou a repetir que a lista foi reconhecida como falsa pela CPI. Entretanto, Delcídio, em delação premiada homologada pelo Supremo neste mês, confirmou que o conteúdo do documento era verdadeiro e que havia repasse de Furnas a políticos, ainda que a versão que circulou há dez anos tenha sido forjada. Delcídio confirmou que Aécio recebeu dinheiro ilegalmente.

Fonte: Gazeta do Povo (texto/cópia)

 

Sobre Francisco Carlos Somavilla 1551 Artigos
Bacharel em Ciência Politica. MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Especialização em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

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