A briga foi feia, elas inté se estapiaram, contou “seo” Orlando

Este é o primeiro de contos, causos e lendas que serão publicados neste espaço a cada 15 dias. Causos, como todos sabemos são histórias engraçadas ou tristes.

A intenção é atiçar a curiosidade sobre a contação de causos e descobrir talentos. Afinal, a leitura bebe do que não se vê, pois o leitor imagina, projeta e transfere trocando determinadas situações.

No imaginário popular, coisas engraçadas ou tristes são relatadas, contadas, faladas ou “fofocadas”.

 

Causo do “seo” Orlando, o benzedor.

No interior onde fui criado, nas noites quentes, com o céu mostrando a lua clara e a figura de São Jorge montado em seu cavalo com a enorme lança matando o Dragão ficávamos pasmados e boquiabertos com os causos contados pelo Sr. Orlando, “o benzedor”.

Ele fazia suas orações que dizia afastar mau oiado, que curava cobrero, que acabava com inveja e que também trazia de vorta o amor perdido.

Numa destas noites que, aliás, nós crianças aguardávamos sempre com a maior curiosidade qual seria o próximo caso a ser contado em detalhes pelo benzedor. Naquela noite então foi o máximo.

Mas antes de iniciar ele falou: o causo que vou conta hoje espero que sirva de lição pruceis tudo, piazada.

“Durante a Revolução de 1932 nossa tropa “ando por vários município de São Paulo, mas num destes aconteceu um episódio que  ficou marcado na cabeça de tudo os sordado.

“Na minha cabeça até atuarmente tá bem crara a situação canstrangidora” aconticida”

Seo Orlando começou: ao redor de uma fogueira tava eu e mais uns 10 ou 15 sordados assando um cateto no espeto, “tava” também umas raparigas, aquelas muié.

”óis tava jogando cartiado e outros tomando umas e outras, cachaça da boa, e vinho do “bão”.

O assado tava “quage pronto quando de vereda umas rapariga formaro um bordé daqueles  por causa de um sujeito lá. Uma no maior “gritedo” acusava a outra dizendo, eiiii voce sua “pestienta”, comprou “peitera” nova com que dinheiro? sua isso, sua aquilo. “Nem vo fala os xingamentos que saíram da boca das rapariga. Foi muito feio…tá loco.

E foi vinho e cachaça na fuça de uma e de outra. Foi um baita escarcé e gritedo, separa, separa, parem com isso…

Mas alguém perguntou, seo Orlando, mas elas brigaram só por causa de uma peitera?

Não, respondeu Seo Orlando, na verdade elas se tramaro no xingamento e nos tapa por causa de um “sordado” que passava a lábia nas duas, mas comprou a “peitera” só prá uma. A rapariga que não ganhou ficou com uma inveja danada, pois servia o “sordado” da mesma forma que a outra, mas não foi “presentiada” também.

Alguém perguntou, mas barbaridade, e o como acabou essa peleia?

Seo Orlando, “o benzedor” falou, “cê sabe qui num sei”, o “coroné” “ordenô” que a turma se arrancasse dali e que o “sordado” se virasse e desse um jeito naquela situação. Óia, disse ele “disconfio” que até hoje essa peleia não foi bem “arresorvida”.

Outro curiosinho perguntou,  benzedor, mas afinal o que é essa tal peiteira? É de comer ou de usar?  É argo valioso, é o tar do surtian, respondeu seo Orlando.

Banoite piazada. “Si eu “discobri o finar do rolo conto tudo numa próxima vêis”

E lá fomos nós dormir sem saber o final, mas comentando, vixiiiii deve ter dado um sururu danado na casa do “sordado”, não???

Sobre Francisco Carlos Somavilla 1551 Artigos
Bacharel em Ciência Politica. MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Especialização em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

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